domingo, 29 de abril de 2012

Conversa a botas batidas

- Não gosto disso.
- Não gosta disso o que?
- Essas coisas que você escreve.
- Essas coisas que eu escrevo?
- É essas coisas tristes.
- Ah...
- Porque?
- Porque o que?
- Porque sempre triste?

Nayara Alvim.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Paz

Como um campo no alto da colina que um dia vi quando pequena, senti aquela sensação. Liberdade, paz, tranquilidade. Ali estava segura, afastada de todo mal, de todo fim. Agregada a direta mudança, era possível que visse claramente. As pétalas acompanhavam o ritmo em que a brisa corria, sacolejavam a mais bela dança, vistas com os olhos nus era puro, natural. A sensibilidade me tocou naquele momento, meus pés imploravam para ser soltos, queriam voar pelo momento, embarcar no tempo e parar.
Jamais me esquecerei daquele dia, foi a primeira vez que me encantei com o infinito azul. Refletido de várias cores, era possível que mais tarde teria se formado um arco-ires. Os pigmentos de todos os tons que jamais conseguirei descrever, imundaram meus olhos a mais bela emoção. A perfeição diante de meus olhos como seria possível? A partir dai todos os dias em que a lua pairava no céu na mais incrível forma, no contorno arredondado e extremamente grande eu a implorava para que um dia talvez ela me levasse, me tornaria luz e obscuro, arte que não se toca, apenas aprecia.
Ate então os dias se passaram, meses, anos. Foram-se calos e cortes, cicatrizes permaneceram, nada que não pudesse gerar dor. Mas a quietude de tudo me estranhou, veio você e abrangeu todas as feridas, me esqueci delas e simplesmente sessaram. Palavras na mais estranha forma, me senti presa a todo meio, finalmente me sentia presa a vida e tudo que pudera acontecer.
Esta como muitas noites por meus pensamentos rondaram um sonho bom, a imaginação deixou de afligir e a consciência de pressionar. Eu e você encontrando nossos dedos timidamente, selando o laço que se fortalecerá, um toque, nossas mãos se uniram. O brilho das estrelas iluminando nossa noite e a lua deixando o encanto a vista. A expressão de alegria apareceria em minha face, visto ali um sorriso verdadeiro. Meus pés formigando com tamanho nervosismo, um, dois, três suspiros.
Seriedade. Você me transmite isso. Suas mãos avermelhadas transpirariam o nervosismo. Talvez você esquivasse o olhar e assim meu sorriso se alargaria ainda mais. Meus dedos calmamente encostariam em sua face, não sei, essa vontade de lhe tocar, tomar por posse ao menos entre segundos. De alguma forma aconteceria, não é possível descrever quem agiu primeiro, mas logo depois nos vejo abraçados, nos tornando apenas um. Exalando o teu perfume, sentindo teu coração bater, acompanhando a sua respiração. Novamente me encontraria em um momento de paz, "ali estava segura, afastada de todo mal, de todo fim". Eternizaria tal momento em minha memória e acobertaria em meu coração a sete chaves.
Já não me encontro mais ciente de nada, se perder nunca é o bastante é sempre preciso mais. Felicidade ao menos em segundos valeria a pena por tudo, por tudo que passaríamos.

Nayara Alvim.

terça-feira, 17 de abril de 2012


Coração é terra que ninguém vê

Lindo demais
Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira
De um coração.
Sanchei, mondei- nada colhi.
Nasceram espinhos
E nos espinhos me feri

Quis ser um dia, jardineira
De um coração
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
Nada criei.

Semeador da parábola...
Lance a boa semente
A gestos largos...
Aves do céu levaram
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
Na terra dura
Da ingratidão.

Coração é terra que ninguém vê - diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho, - teu coração.
Bati a porta de um coração.
Bati, bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
Foi o que encontrei.

Cora Coralina (1889-1985).

sexta-feira, 13 de abril de 2012


Utopia

Aperto no peito, coração aflito, pressentimento ruim.
Rente todos os acontecimentos te vi chegar de repente, invadindo minha vida num piscar de olhos. Luz branda e pura, algo que tanto me encantou. E toda essa vontade de cuidar, de proteger se destacou a dias passados. Diferente. Provavelmente algo como sentir o que viria, me preparar, seria mais uma barreira difícil. 
Como toda e qual quer ignorância de sempre, ergui-me do mais fundo dos poços, eu estava voltando. E tal alma doce e singela mal me aguardava chegar ou talvez o acaso agiu nos dando essa impressão. Estonteante de mais. Paradoxo criado a junção de facetas desconhecidas, de sonhos escondidos, da verdade mal contada. Expressas ali palavras soltas ao sentido que criávamos.  Reconhecimento de almas, uma relíquia quem sabe. 
Avisos foram ecoando sob nossos ouvidos ao darmos passos e mais passos, se perder depois da trilhagem marcada, a de ida com volta. Ultrapassamos tal linha, perdição, medo, utopia. Já não se era mais possível voltar. Juntos ou separados? união ou esquecimento? Sim arriscamos alguns passos juntos. Felizes assim mesmo debaixo de um abismo. 
União dos corpos celestes, da ação das estrelas e das fases da lua, assim como algo tão desconhecido, nós, se perdeu. Passado, presente e futuro agindo em nosso meio com alfinetadas que não se consegue esquivar, sempre nos cobrando certeza, força e união. Mas sabemos que não possível. Corte.
Veneno que me atira no chão, que derruba esperanças, sonhos, é avassalador, torturante. Assim como me atenta ao novo e aquilo que mais desejo, me trás algo bom, marcas, sorrisos, felicidade incerta.
Linha que marca parte de uma história que sabe lá se já existira, nos rompe com nossos medos guardados. A vontade da fuga e o desejo de ficar se chocam e nos esgota. 
Um jogo, uma prova. Teste que a vida nos colocou frente a frente. Virá pontos, virgulas, continuação e mais parágrafos ou talvez apenas um fim.
A resposta vem a mão, não sera possível voltar, nunca será, mas do que importa? Se resolvemos arriscar.


Nayara Alvim.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Não peça mais

Ousares atravessar os limites marcados por mim, não tente voltar, pode não ser mais possível. Se de minhas atitudes lhe magoar, jogue em minha consciência um balde de água fria não me importarei. As mágoas correram por essas bandas, a raiva ultrapassara limites, trocara alguns passos e quem sabe pode se perder. Acredito que não estava ciente disso, então lhe aviso, nada é fácil, nunca foi. Queres respostas? Engula as perguntas e tente se comodar com o que sabe, lhe garanto é melhor assim. Fugiras da estaca por tempos para se atirar em uma cova funda e vazia, lhe ofereço minha mão apenas isso, quero lhe ver de pé, quero ver-te sair da imensidão sem fim. Não peça mais, não tente mais do que isso. Tranque seu coração a sete chaves e o deixe longe de mim, bem longe. Posso rouba-lo e não querer devolver.

Nayara Alvim.

segunda-feira, 2 de abril de 2012


Sou a ponte


Uma ponte sempre uma ponte,
Um rio traiçoeiro repleto de pedras escorregadias e perigosas,
A ultrapassagem parece ser impossível, mas alguns conseguem.
É preciso ser forte.
A um atalho, um lugar onde poucos conseguem encontrar.

Ponte que interliga as duas pontas do rio deixando a travessia mais tranquila e exorbitante,
Podendo assim admirar a paisagem e aproveitar tal momento tão mágico ao lado de alguém,
O seu alguém, o alguém que escolheste.


Me vejo de repente diante desse rio sem saber o que fazer, perdida, com medo.
O medo não cessa dentro de mim, o coração disparado, sinto que vou desmaiar.
Comecei assim, uma pedra um pé, para facilitar o próximo passo pulei uma e pronto, me dei de cara com um deslise.
Caminho errado, neste era preciso pular a longa distancia, ainda era mais perigoso.

Tempos se passaram e eu ali presa a encruzilhada de pedras e a água escaldante batendo sobre meus pés.
Meu corpo já se encontrava frio, roxo, estava perdendo as minhas forças,
Só não sabia se era pelo medo ou pelo tempo em que eu já estava ali.
E então eu saltei, saltei com todas as minhas forças, nos meus sonhos,
Pois mal meus pés saíram do chão e eu cai, cai como um cascalho.
Um grito com todas as minhas ultimas forçar, a dor se espalhou e eu me parti ao meio.

Estava acabada, destruída, não avistei ponte alguma, não fui forte o bastante quando precisava ser, não agi com coragem, fui covarde.
Me dei por fim, ate que senti sendo pisoteada por um peso três vezes acima do meu ou era eu que estava fraca de mais para aguentar?
Uma luz, um brilho encantador, imaginei que viste para me ajudar.
Sente que meu coração voltou a bater novamente e fui recuperando forças de onde eu mal sabia que tinha, fui me refazendo aos poucos.
Parecia mágico.

Mas que bobagem! Burra eu de acreditar que seria verdade.
A fortaleza de algo que parecia ser bom se escasso em pouco tempo.
Ampulheta rodava e marcava momentos que ficaste sobre mim e meu corpo deduzia que já não era desconfortante, estava anestesiada de mais para sentir a dor.
Assim que a luz se abortou em poucos passos entrando na escuridão e sumindo, sumindo para sempre.

A dor voltou como nunca, pude sentir tudo novamente, mas agora era pior.
Era de mais. As marcas que deixará causaste feridas que ate hoje não conseguiram ser curadas.
Não a como fugir pois não tenho mais forçar, não a como pedir mais, pois já me encontro sem fala, não a como fazer nada alem de esperar.
Foi assim que eu entendi, tanto tempo ali mergulhada no rio sem fim, eu, eu sou a ponte. Sou o elo que liga as duas pontas, só isso.
Jamais serei diferente, sempre assim, iludida, usada e trocada. Sou a ponte.

Nayara Alvim.

domingo, 1 de abril de 2012

Desculpe-me

Sabe quando você faz aquela besteira e que depois de dois segundos percebe que foi a coisa mais idiota que pudesse ter falado?
Sabe quando você luta para conseguir um espaço na vida de alguém com esforço e cuidado, assim que consegue uma brecha de toda a dificuldade que a pessoa coloca acaba se dando tão envolvida que quer proteger aquela pessoa de todo mal que pode de existir?
Sabe quando você gosta tanto de alguém e tenta privar ele de tudo só para o deixar melhor e descobre que foi a pior coisa que pudesse fazer?
Sabe quando você se perde no meio de tantas encruzilhadas e sai falando o que vem na cabeça?
Sabe aquele egoísmo de não querer partilhar nada que você quer com outras pessoas e percebe que não tem como não ser assim?
Ai depois de tudo você analisa a situação e percebe que você é que complica, você é que desdenha, você que faz nós sem saber desfaz-elos, é você que fere aquilo que mais deseja cuidar.

Nayara Alvim.